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Mizael A. Reis
Pregação
Salvação
Teologia
O Tagarela e o Erudito
Lá estava Paulo, no centro da
erudição local de sua época, e no berço intelectual da história de todos os
tempos, na Grécia, frente aos que arrogavam saber alguma coisa sobre a vida,
impondo sobre Paulo uma cosmovisão pagã de mundo rechaçando a sua como banal. Estamos
diante do relato do magistral episódio de Atos 17 segundo o qual Paulo pregou
triunfantemente a Cristo, explicita e diretamente Cristo, frente aos pagãos
alegadamente sábios segundo o mundo. E de fato fazia jus à alcunha, humanamente
falando. Ali estava a vanguarda do pensamento humano e os epicureus e os estoicos, além de vultuosos em sua época, propuseram, em boa dose, algumas das
bases da moderna e principal objeção que se faz contra o Deus das Escrituras.
A
entronização do pensamento humano sobre qualquer outro fez e ainda faz com que
outras cosmovisões de mundo repensem suas bases a fim de se adequarem às
exigências daqueles aos quais se pretendia ou se pretende alcançar, mas a
questão é: o que Paulo fez? E o que você faria? Ou, o que você tem feito,
frente a enxurrada de visões, asserções e pensamentos gerais sobre aquelas
máximas da vida, sobre as quais você tem ouvido, tais como “de onde o homem veio?”, “por que está aqui?”, e, “quais as bases sobre as quais você deveria
sustentar a razão porque age como age”? Antes de responder, vamos ressaltar
a bravura de Paulo, por meio de uma compreensão mais detalhada sobre sua
abrangente e inegociável filosofia por meio da qual entronizou o senhorio de
Cristo, sem qualquer exceção.
Antes de tudo, devemos aprender
com o apóstolo como devemos nos comover pelo mundo perdido. No verso 16, lemos:
“E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria” [v16]
Visto que sua
missão consistia em apresentar o Evangelho, a palavra por meio da qual ele
enxerga tudo mostrou-lhe a escuridão na qual o homem se encontrava e da qual os
seus deuses não lhe poderiam tirar, envolto em qualquer religião a parte do seu
Cristo. Isso não significa que não possam haver verdades pontuais do
Cristianismo em algumas religiões, mas não nos cabe promover redenção por meio
delas, alegando qualquer conciliação. O problema não é se há ou não alguma
verdade que mostre o senso do divino que há no homem, justificado pelo fato de
o homem ter a imagem de Deus, mas por meio de qual base ou filosofia de vida
essas verdades são assumidas e estruturalmente sustentadas, e esse é o
problema.
Religiões genéricas são essencialmente idolatrias. Eis a antítese
sobre a qual muito falou Schaeffer, quando, entre outras coisas disse que “Absolutos implicam antítese” [O Deus que
intervém, p. 23]. A neutralidade é um mito que nubla a verdade de que na busca
por agradar o mundo desagradamos o verdadeiro Deus, e na busca por nos
apoiarmos em qualquer religião genérica, nos oporemos ao Deus verdadeiro, e
esse absoluto maior foi fundamentalmente estabelecido pelo Senhor Jesus:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”. [Mateus 6.24]
Isso é
retrógrado? Culturalmente repressor? Seria uma visão comprometedora a boa ordem
social da qual o mundo tanto carece? Considerando o mundo atual no qual
vivemos, e ao contrário de Paulo, poderíamos alegar certa evolução no
pensamento religioso pelo qual ser-nos-ia possível propor uma positiva
conciliação que interrompa qualquer comoção pelos perdidos, fazendo da religião
alhures outra co-igual, o que na verdade tem sido feito, por muitos, inclusive
em igrejas e em seminários? Lamentável.
Devemos manter essa antítese objetiva manifestada
pelo sentimento de Paulo ou poderíamos levar adiante a interdisciplinaridade
entre as religiões que vemos sendo proposta a todo vapor em faculdades de
teologia, superestimando, a cada dia, o subjetivismo secular? Para o apóstolo
estar diante de qualquer religião significará idolatria em detrimento da
verdadeira adoração ao Deus Trino, e nós devemos buscar de nosso Deus a mesma
resolução, a mesma coerência, o mesmo ardor pela promoção do evangelho. Nada
podemos por nós mesmos, mas o Senhor dos exércitos está à frente dessa batalha.
Ele quer salvar os perdidos, mas temos de vê-los como perdidos. Apresentar
redenção ao que precisa ser redimido; liberdade ao cativo, perdão ao culpado,
correção ao repreensível e salvação ao perdido.
Mas percebam.
Paulo ainda não está no templo, mas andando pelas ruas de Atenas, certamente
detectando os traços religiosos da cidade em tudo ao redor. Ou seja, seu
prognóstico começou ainda no dia a dia, o que extensivamente à nós, poderia ser
chamado de nossa cotidianidade.
Eis a maneira
correta de enxergar o mundo. O texto diz que Paulo viu “cidade tão entregue à idolatria”. Atentem-se para isso. Temos de
falar do mundo, no mundo, mas à maneira do Deus que criou o mundo. Temos de
olhar o mundo ao nosso redor e julgá-lo, não como quem estivesse fora dele,
como por exemplo, vendo-o lá de cima, da santidade da congregação local da
igreja, mas dentro dele, vivendo a vida que se desfruta nele, mas com as bases
que o criador desse mundo estabeleceu, e esse Deus, por sua base, tem dito que
o mundo caiu e este, quando busca ver a deidade, tudo que tem feito tem sido
refletir-se a si mesmo no deus que cria à sua imagem e à sua semelhança.
Vejamos essa verdade, dita por Paulo em Romanos 1.
“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou...Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.” [vv. 19,21]
Deus se
manifestou ao mundo, mas o mundo já estava cego por causa do seu pecado. Então
a visão verdadeira do Deus verdadeiro, manifestada pela criação desse Deus, foi
distorcida pela visão de sua criatura caída. Se, segundo Paulo, as religiões
são um desfoco levado adiante pela cegueira decorrente do pecado, não seria
bíblico não nos entristecermos por tais visões de mundo, alegando riqueza
cultural. Precisamos andar pelas ruas, em busca de cegos do Deus verdadeiro,
propondo-lhes a correção à sua cegueira e redenção da cultura. Isso é Cristo
revelado em seu santo Evangelho. Temos feito o mesmo? Ou temos reduzido o
alcance da cosmovisão cristã aos momentos de Domingo à noite, no templo, vendo
as demais coisas do mundo como inofensivas por serem alegadamente neutras? Aqui
temos dois erros, na verdade.
O primeiro seria criar uma dicotomia onde as
coisas ou são de Deus ou do mundo, renegando a cultura, por exemplo, como de
origem estritamente demoníaca, como se não houvesse nela, tanto coisas boas,
como outras passiveis de redenção, e observando o segundo erro, seria concluir
que as coisas, ditas do mundo, são inofensivas por já serem do mundo, ignorando,
dessa forma, muitas coisas influenciadas por uma cultura distorcida, da qual,
algumas coisas podem ser redimidas, mas outras, completamente descartadas. Paulo
não perdeu tempo e andava pelas ruas regido por sua visão de mundo, sabendo
corretamente interpretá-lo à maneira de Deus, não correndo o risco de ser
seduzido por ele.
Não devemos esperar brilhar a luz de Cristo, [somente] dentro
do culto local, quando as luzes ali reunidas se tornam um luzeiro confinado
pelas paredes, mas sim viver e falar de Cristo para o mundo ao qual Cristo
mesmo pretende redimir por sua verdade, mas continuemos com Paulo.
Seu espírito comovido o levou às
sinagogas locais, nas quais a religião sem Cristo era ensinada. O texto não diz
que ele foi ali orar em prol da conversão dos judeus, embora certamente isso
foi feito por Ele, em momento oportuno, e o que deve ser feito por nós, mas o
texto nos ensina que Paulo esteve diante deles disputando, e isso não somente
nas sinagogas, mas nas praças também. Que lição! Paulo esteve nas sinagogas e
nas praças disputando com os homens sobre o verdadeiro caminho que conduz à
Deus. E o que significa disputar? Entre inúmeras traduções, algumas das quais,
vindas à sua mente, pense naquela que o Priberam definiu como “querer para si, em detrimento de outrem”.
Isso destaca ainda mais uma obviedade já contida nas demais traduções que
seriam “debater”, “discutir” ou “concorrer”.
Isso mostra a apologia da fé, o desejo de anunciar Cristo,
não como mais uma maneira pela qual o mundo pode ser enxergado e interpretado,
mas como aquela única maneira, sem a qual o mundo permanece em completa
escuridão e sem sentido. Isso tem de ser feito, hoje? Como devemos esperar
ganhar as pessoas para Cristo? Especialmente considerando um mundo que após o
iluminismo, que foi a completa entronização do homem, aperfeiçoou sua fábrica
de fazer ídolos, que é o seu coração, não só criando tantos deuses e religiões
quanto possível, mas criando cosmovisões sem qualquer noção de Deus? O
subjetivismo, que criou a religião do sujeito, já não se preocupa com a
natureza inalterável de um objeto, e como esperamos falar às pessoas, com as
quais convivemos no mundo de Deus? Temos de ir, temos de influenciá-las,
mostrar a beleza que é ver o mundo sob os óculos da verdade, instarmos “a tempo e fora de tempo” [2 Tm 4.2].
Paulo nos ensina, tal como ele assim
o fez, que devemos orar “para que Deus
nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo” a fim
de pregarmos e andarmos com “sabedoria
para com os que estão de fora, remindo o tempo”. [Colossenses 4:5]. Temos
de estar lá, mostrando que a cosmovisão naturalista ou genericamente religiosa,
no mundo de Deus, é indefensável, e nisso consiste a disputa em meio a qual
Paulo se viu com os judeus e com os gregos em Atenas. Ele foi até eles, mostrando
como tais pessoas estão em desvantagem, e com a natureza ofensiva do evangelho,
denotada pelas palavras de Jesus que disse que “e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” [a igreja] [Mateus
16.18] ele entronizou Cristo em seu mundo.
Mas a grandeza do evangelho e a
sua natureza ofensiva não garantem que não haverá resistência, e com Paulo não
teria sido diferente. O verso 18 diz que os sábios de sua época se opuseram à
pregação de sua visão de mundo:
“E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição” [v18]
Paulo estava na Grécia, e diante
dele, ninguém menos que os seguidores de Epicuro e de Zenão. Epicuro definiu a
satisfação do homem por seu próprio auto-conhecimento como Ataraxia, o que significou para ele como a “ausência de
perturbação”. Em suas “principais doutrinas”, Epicuro arregimentou:
“Acostuma-te a ti mesmo em acreditar que a morte não é nada para nós, pois o bem e o mal implicam em sensibilidade e a morte é a privação de toda sensação e sensibilidade. Portanto, o correto entendimento de que a morte não é nada para nós faz com que a mortalidade da vida seja agradável, o que não aumenta a vida a um tempo ilimitado, mas tira o anseio após a imortalidade. Porque na vida não existem temores para quem aprendeu completamente que não existem terrores quando se deixa de viver. Assim, o insensato é aquele homem que diz temer a morte, não por causa da dor que ela traz, mas pela dor que ela deixa para o porvir”. ¹ [http://lexundria.com/epic_ep_men/0-14/hks - tradução do grego para o inglês].
O pensamento de Epicuro era
materialista, naturalista, tendo sido um ateísta prático. Sua visão de mundo
não comportava um ser superior por trás e acima de todas as coisas, muito menos
o Deus revelado por Paulo, e um resumo apropriado de seu pensamento pode ser
descrito em quatro máximas “Não há que
temer a Deus, morte significa ausência de sensações, é fácil procurar o bem e
fácil suportar o mal” [História da filosofia, Editora nova cultural, p. 76].
Logo, os pensamentos ali eram contrários, completamente antitéticos, dos quais nenhuma
interseção poderia se fazer emergir a fim de se obter uma oportuna aproximação,
que alguns buscam obter, alegando motivos nobres, mas na verdade desejam evitar
o trauma do escândalo que desagua em discórdia de ideais. Mais ainda, e para
destacarmos o comprometimento de Paulo com a verdade, podemos pontuar que em
Epicuro temos a construção das premissas que formam o silogismo mais famoso de
toda história, o qual ainda hoje, para os mais céticos, arroga emergir o
suposto e temido calcanhar de Aquiles do Cristianismo, chamado de o paradoxo de
Epicuro. Gostei da forma a versão abaixo sintetiza sua proposta:
1º - Se Deus é amor, mas o mal existe, então ele não é realmente
onipotente para impedir a existência do mal.
2º - Se Deus for onipotente, então ele não é amor, pois poderia acabar
com o mal, mas não o faz. Antes, deixa sua criação no sofrimento.
3º - Se Deus realmente for amor e onipotente, então o mal não deveria
existir. Se o mal é real, logo, pode ser que esse Deus onipotente e de amor não
exista.
Paulo estava na frente de
filósofos que sustentavam essa visão. A despeito da idolatria presente na Grécia,
no Areópago, Paulo também teve de lhe dar com o ateísmo. Teria tido Paulo a
oportunidade de registrar biblicamente uma resposta clara e objetiva ao que
Deus saberia que posteriormente se postularia como o “intransponível” paradoxo
de Epicuro? Mas ao pregar o que pregou, ele não o teria feito à maneira de Deus?
Não que ele tenha satisfeito às mentes dos epicureus dando-lhes respostas
racionais, nem que ele tenha nos poupado do senso do mistério que deve sempre
nos levar a rendição à Deus, mas devemos nos satisfazer com a resposta dada
pelo apóstolo e a sua resposta foi uma vibrante pregação da morte e
ressurreição de Jesus Cristo.
O que temos falado aos ateus? Temos “pisado em ovos” quando buscamos falar às pessoas irreligiosas de um ser sabe-se-lá-qual que pode ter criado o mundo que supostamente poderia ser deduzido por meios puramente naturais? Temos nos satisfeito em apresentar uma deidade sem-nome para introduzir àquele a quem
falamos num pensamento que temos julgado ser mais intelectualmente sofisticado,
do que de pronto falarmos sobre o Senhor Jesus Cristo e o seu evangelho?
Enquanto teólogos eruditos de uma
senda liberal têm sentado junto a ateus, recebendo elogios de filósofos de boa
oratória, para a Paulo portar-se como mensageiro da cruz frente a erudição de
sua época rendeu-lhe a alcunha de paroleiro, tagarela. O apóstolo das 13
epístolas, o homem de quem mais aprendermos, excetuando o Senhor Jesus, sobre a
nossa fé, foi chamado pelos “inteligentes” de sua época de papagaio. O que
temos temido? Ou consideramos uma readequação moderna do que Paulo pregou,
justificada pelo avanço do que se alega ter ocorrido com o homem moderno da
ciência moderna, ou nos rendemos à tal episódio como um real e contemporâneo
exemplo de como nós devemos proceder quando estamos diante de uma criatura
feita à imagem de Deus, agora caída.
Os argumentos de Zenão não seriam
menos naturalistas, embora completamente panteístas. Viver segundo o estoico consistia em “viver de acordo com a
razão, que significa desviar-se das paixões, que são perturbações da razão. Se
o mundo é regido por alguma providência racional, o importante é que cada um
reconheça como parte dela, aceitando impassivelmente (sem paixão) a sua
condição...Ausência de paixão, apatia. Esse é o ideal ético dos estoicos”.
[História da filosofia, Editora nova cultural, p. 74].
Filosofias semelhantes se
aglomeram aos montes em nosso tempo. “O
deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos” [2 Co 4.4], mas
seus corações continuam ativos sendo “uma
perpétua fábrica de fazer ídolos” [As Institutas da religião Cristã, I, XI,
8].
Seguindo no texto, ao ser
confrontado pelos filósofos epicureus e estóicos, Paulo foi levado por eles ao
Areópago, o grande aglomerado de deuses dos gregos, devotado a Ares, lugar no
qual também ocorriam julgamentos, de onde também provinham a educação, a
supervisão da ordem pública, enfim, um tribunal, e um tribunal pagão. Parece
que Paulo foi levado por eles àquele lugar numa espécie de confronto de
manifestação ao ridículo.
Numa ação de completa ridicularização por parte
deles, Paulo foi posto em um lugar no qual seus ídolos se erguiam imponentes,
adornando aquele lugar, e então eles o arguiram:
“Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? ”Atos 17:19
Se colocando no meio, do exato
lugar do qual todos poderiam vê-lo, ele ergueu a Cristo.
Resumindo suas palavras ditas dos
versos 24 a 27, Paulo diz que o seu Deus, o Deus das Escrituras:
É o Deus criador que fez o mundo,
sendo o Senhor de todas as coisas. Os templos não podem contê-lo, razão porque
todos aqueles deuses, feitos por eles mesmos, eram falsos, falsidade essa
denunciada por Paulo ao exortá-los, chamando-os de supersticiosos; Não sendo tal Deus, portanto, dependente da
criatura, pois habita nos céus, de quem flui a vida, sendo Deus mesmo o criador
de toda a vida que existe, tendo feito de Adão todo o ser humano, sendo
soberano sobre os lugares nos quais eles se estabeleceram, tendo estabelecido
os dias de suas vidas, mostrando ser toda criatura a imagem dEle, permitindo-a
ter o senso por sua eternidade, mas tendo determinado vir de Cristo a redenção
de suas criaturas. Empolgante!
Assim, Paulo coroa sua pregação
aos pagãos ao dizer que “Deus, não tendo
em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o
lugar, que se arrependam. Porquanto tem determinado um dia em que com justiça
há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a
todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. [At 17.30, 31].
Mensagem diante da qual os filósofos,
resistentes, arrazoaram:
“E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez”. [v. 32]
Então Paulo os deixa, sob o
apelido de tagarela, de quem, desinquieto, as marcas do seu Cristo se manifestaram.
Fora dos “portões da filosofia”
houve conversões, pois o texto garante que “chegando
alguns homens a ele, creram” [v4]. Mas no que diz respeito ao que falou aos
filósofos, Paulo perdeu um debate? Ele foi envergonhado pela erudição pagã?
Deveria ter tentado uma alternativa? Deveria ter sido conciliatório,
filosoficamente diplomata, social e ideologicamente acolhedor? Ter proposto uma
interdisciplinaridade promissora? Deveria
ter feito o que temos feito para fazer do nosso Cristo, um cristo junto a
outros cristos sob a base do famigerado ecumenismo? Se Paulo foi levado pelos
pagãos ao berço do paganismo para de lá entronizar a exclusividade do trono do
verdadeiro Deus, e visto ser ele um paradigma canônico às nossas ações, não há
centro universitário, bancada ou estrutura política, praças, ruas, esquinas ou
quaisquer lugares, que possam subsistir à genuína e verdadeira pregação do
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Que possamos nos arrepender.
Que o
Senhor nos converta por sua graça. Que o senhor nos encoraje a representá-lo,
tal como seu imitador Paulo.
O que precisamos? Precisamos
confiar na semente dada pelo agricultor aos semeadores, pronta a germinar em
qualquer solo. Precisamos entronizar a Deus por meio de um apego irrestrito aos
termos de sua salvação, estabelecidos em sua santíssima Palavra. Como nos
lembra Scott Oliphint:
“A Bíblia deve ser central em qualquer discussão sobre apologética. É da Bíblia que precisamos, e devemos abri-la, quando se trata de pensar em apologética e começarmos a nos preparar para fazê-la. Lutar a batalha do Senhor sem a espada do Senhor é tolice. Deixar a única arma que é capaz de penetrar o coração é lutar uma batalha perdida” [A batalha pertence ao Senhor, p.26].
Isso, porque, assim como Paulo em
Atenas, ao nos opormos às religiões por meio da pregação de Cristo e seu
evangelho, não estamos vencendo um debate intelectual, estamos amorosamente
estendendo à pecadores a única verdade cuja mensagem consiste em apresentar o
único nome, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos.
Em nossa pós-modernidade, poucos têm percebido a saudável antítese filosófica que deve existir, e que define o absolutismo cristão em oposição ao relativismo secular, colocando as coisas em tensão, como Francis Schaeffer anunciou, de quem termino com um poderoso conselho ao retorno ao apego à espada do Senhor:
“Os evangélicos muitas vezes cometem um grave erro hoje em dia. Sem o saber, eles passam a adotar uma posição bastante fraca. Eles muitas vezes agradecem a Deus em suas orações pela revelação que temos de Deus em Cristo. Isso é bom, sem dúvida, e é maravilhoso o fato de termos uma revelação factual de Deus em Cristo. Mas ouço bem poucos agradecimentos dos lábios dos evangélicos de hoje pela revelação proposicional na forma verbalizada que temos nas Escrituras. De fato, Deus não deve somente existir, mas ele também deve ter falado. Deve ter falado de forma muito mais do que meramente apelativa para experiências extraordinárias e emocionais. Necessitamos fatos proposicionais. Precisamos saber quem ele é, e qual o seu caráter, porque seu caráter é a lei do universo. Ele nos contou tudo acerca de seu caráter, e esta se tornou a nossa lei moral, nosso padrão moral. Não se trata de algo arbitrário, pois está firmado em Deus mesmo, no que sempre foi. Trata-se precisamente do oposto do que é relativo. Ou é isso, ou a moral não é moral. Ela se tornará simples médias sociométricas ou padrões arbitrários impostos pela sociedade, o Estado ou uma elite. É um ou outro”. [O Deus que se revela, p .72].
Por: Mizael A. Reis
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